Onda de greves ganha força

Data: 06/08/13

Diante da resistência das empresas em darem reajustes muito acima do INPC, várias categorias cruzam os braços. Eletricitários e petroleiros puxam a fila. O segundo semestre é marcado por importantes negociações. Especialistas alertam para um período de forte tensão

A resistência das empresas em conceder reajustes salariais acima da inflação, diante do baixo crescimento da economia, pode detonar um forte onda de greves. O segundo semestre do ano é marcado por pressões historicamente conhecidas — petroleiros, bancários, metalúrgicos, entre outros — e por conversas tensas. Até dezembro, estão previstas 253 negociações envolvendo 76 categorias, a maior parte delas do setor industrial.

Na análise do coordenador de relações sindicais do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), José Silvestre, a situação econômica do país, que têm derrubado os ganhos das empresas, pode dificultar os acordos e causar um recuo nos ganhos reais neste ano, em comparação a 2012.

Levantamento da entidade aponta que, das 696 negociações do ano passado, 98% resultaram em algum aumento dos pisos salariais, a grande maioria acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). O ganho real médio registrado foi de 5,62%. “O atual quadro da atividade dificulta as negociações, sobretudo por causa da alta da inflação e dos juros e da piora na expectativa em relação ao crescimento da economia”, explicou.

Silvestre, no entanto, não acredita que vá haver queda significativa nos ganhos. “A média do ano deve apresentar um recuo, mas nada muito abaixo do padrão”, afirmou. Enquanto as categorias querem ganhos reais mínimos de 5%, além de ampliação de direitos trabalhistas, até agora, em grande parte dos dissídios coletivos, a oferta máxima não chega a 2% e, em alguns casos, os que se colocam à frente dos movimentos são punidos com demissão.

Segurança
A insatisfação cresce entre os trabalhadores. O Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF) convocou uma nova paralisação da categoria, por 24 horas, para a próxima sexta-feira, quando deverá ser divulgado o balanço do primeiro semestre da Petrobras. Os trabalhadores querem que a companhia retome o pagamento de descanso remunerado, que foi cortado em julho. O coordenador-geral do sindicato, José Maria Rangel, disse que há risco de parada de produção na Bacia de Campos, que concentra 80% da produção nacional.

“Se as equipes de contingência não derem conta, pode ter parada de produção”, afirmou Rangel. Ele estimou que o movimento deverá contar com 5 mil trabalhadores, além de 15 mil terceirizados. A paralisação será parcial e serão mantidos os trabalhos com impacto em saúde e segurança, nos mesmos moldes da última greve, em 25 de julho. A categoria alega que a estatal está descumprindo a Lei 605/49, que lesa os trabalhadores, ao não pagar as horas extras no repouso remunerado pelo mesmo valor de um dia trabalhado. O aviso da paralisação foi protocolado ontem, em comunicado enviado ao diretor de Exploração e Produção da Petrobras, José Miranda Formigli.

Já os petroleiros da Refinaria Presidente Getulio Vargas (Repar), no Paraná, farão greve de 24 horas, hoje. Eles vão protocolar no Ministério Público do Trabalho uma denúncia sobre o deficit de pessoal na empresa e os risco que isso representa.

Os funcionários da Eletrobras retornaram à greve ontem, após discordaram da contraproposta da estatal apresentada na audiência de conciliação no Tribunal Superior do Trabalho (TST) na quinta-feira passada. Eles não abrem mão de reposição inflacionária, de 6,49%, mais ganho real de 1%. Os peritos federais agrários do Incra cruzam os braços por três dias (de 7 a 9), como forma de pressão ao governo federal, que não aceita conceder mais que os 15,8%, acordados em 2012. A categoria se reuniu com o Ministério do Planejamento por três vezes, mas não houve avanços. Já é a quarta paralisação destes profissionais neste ano, que querem isonomia com o salário dos colegas do Ministério da Agricultura.

Demissões
Algumas categorias, no entanto, receberam retaliação. Sob a alegação de enxugar a máquina, a Unimed Brasília demitiu cerca de 50% dos funcionários que estavam em greve desde 1º de agosto. Segundo o SindiSaúde, que representa a categoria, mesmo assim, o movimento continua, já que nenhuma das reivindicações foi acatada. Uma assembleia foi marcada para amanhã, para a decisão dos “encaminhamentos jurídicos das demissões”. Também o frigorífico Friboi, da JBS, demitiu 60 pessoas, nove dias após a greve contra a mudança de horário e pela melhoria da condições de trabalho e reposição salarial. Os trabalhadores prometem nova paralisação.

Os bancários também reclamam de várias instituições financeiras. Contraf-CUT, federações e sindicatos repudiaram as milhares de demissões do Banco Santander e o corte de 3.216 empregos nos últimos 12 meses, sendo 2.290 no primeiro semestre deste ano. A Federação dos Trabalhadores em Transportes Aéreos (Fentac) discute, hoje, com o ministro do Trabalho, Manoel Dias, um plano da TAM para cortar 811 pilotos e comissários.


» Dilma veta anistia

Apesar da pressão de vários parlamentares, a presidente Dilma Rousseff vetou o Projeto de Lei 83, de 2007, que dava anistia a funcionários dos Correios que participaram de greve no período compreendido entre 5 de outubro de 1988 e 23 de fevereiro de 2006. Na mensagem enviada ao presidente do Senado, Renan Calheiros, justificando o veto, a presidente citou o artigo 66 da Constituição, que dispõe sobre os projetos de lei de iniciativa privativa do presidente da República, e aponta que, além de inconstitucional, “o ato geraria acréscimo de despesa pública de mais de R$ 1 bilhão sem que o projeto tenha sido acompanhado dos devidos estudos de impacto econômico-financeiro, em contrariedade à Lei de Responsabilidade Fiscal.

 

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