Policiais alertam: Polícia Federal vive a pior crise da história

Data: 07/09/13

 

Audiência para debater a questão das condições de trabalho da Polícia Federal foi realizada no plenário.

 

No dia em que os policiais federais paralisaram as atividades e anunciaram um movimento grevista em busca de melhores condições de trabalho e valorização profissional, a Casa de Leis foi palco da audiência pública intitulada “Policiais federais motivados, sociedade protegida”.

 



Realizada no plenário Júlio Maia na tarde de sexta-feira (6/9), o debate aconteceu após solicitação do Sinpef/MS (Sindicato dos Policiais Federais no MS). O apelo, atendido pelo presidente da Casa de Leis, deputado estadual Jerson Domingos (PMDB), em parceria com o deputado Maurício Picarelli (PMDB), vice-presidente da Assembleia, reuniu representantes nacionais da categoria, além de promotores, parlamentares e o juiz federal Odilon de Oliveira.

“A polícia federal passe pela pior crise da sua história. O efetivo é insuficiente para suprir a demanda, as condições de trabalho são precárias e as unidades estão sucateadas”, revelou o presidente da Fenapef (Federação Nacional da Polícia Federal), Jones Borges, durante discurso. Na oportunidade, ele aproveitou para apresentar números preocupantes que revelam a crise vivida na PF.

 



Em média, 250 policiais deixam a PF por ano. Considerada a segunda profissão mais estressante do mundo, a atividade policial perdeu, nos últimos 24 meses, 12 profissionais por suicídio.

“Atualmente, o Brasil conta com cerca de 11 mil policiais federais. Num passado não muito distante esse número era maior. Tínhamos, em média, 15 mil profissionais dedicados à atividade. Vale lembrar que enquanto a quantidade de policiais diminui, a população brasileira cresce, portanto, como garantir a segurança sem efetivo suficiente”, pontuou, ao lembrar que, insatisfeitos e sobrecarregados, muitos profissionais acabam pedindo demissão, ou mesmo cometendo suicídio.

Desvio de informações - A representante do Sinpec (Sindicato Nacional dos Servidores do Plano Especial de Cargos da Polícia Federal), Laira Giacometti Carvalho, denunciou o descaso com relação ao setor administrativo da Polícia Federal.

De acordo com Laira, um levantamento constatou que o administrativo conta com 17% dos policiais federais. O índice é o pior em 30 anos. Para suprir as necessidades eles fazem o que chamou de “operação tapa buracos”. Alocam profissionais de outros setores ou terceirizam o serviço de pessoas não capacitadas.

“Isso é um perigo. Essas pessoas têm acesso a informações sigilosas. Algumas, sem preparo, são facilmente corrompidas e representam um risco para a sociedade brasileira”, declarou visivelmente emocionada durante seu discurso.

A diretora do Sindicato dos Policiais Federais de Foz do Iguaçu, no Paraná, Bibiana De Oliveira Orsi Silva, lotada na maior base de fronteira da PF, relatou os problemas enfrentados nos postos de fronteira.

O Brasil conta com cerca de 17 mil quilômetros de fronteira seca. Com a Bolívia, segundo maior produtor de cocaína do mundo, 3.126 quilômetros de fronteira, e com o Paraguai 1.339 e apenas 137 policiais federais para defender o território brasileiro das ameaças oferecidas pelo trafico e outras modalidades criminosas.

“Num calculo rápido percebemos que cada policial tem que tomar conta de 32 quilômetros da divisa, isso se eles trabalhassem todos os dias, 24 horas por dia. Como conter o crime organizado?”, questionou, ao apresentar um raio x dramático da estrutura oferecida aos policias e a falta de perspectivas da categoria que, conforme Bibiana, “vive de promessas”.

A representante sindical contou que os planos anunciados pelo governo federal, como o Sisfron (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras), que envolve radares, sistemas de comunicação e veículos aéreos não tripulados, com previsão de ser totalmente implantado em dez anos, estão longe de sair do papel.

Conforme o juiz federal Odilon de Oliveira, o serviço de “inteligência da PF caiu”. “Antigamente, as solicitações para realização de monitoramento telefônico, por exemplo, eram frequentes. Neste ano, nenhuma solicitação foi feita para a vara em que sou o titular”.

Para o juiz federal, a situação é um reflexo do sucateamento da Polícia Federal.

Grandes eventos - A preocupação do governo federal com a Copa do Mundo de Futebol e as Olimpíadas já demandaram bilhões de reais. Para o juiz federal, dinheiro mal investido. “De que adianta injetar milhões em construção de estádio e não contar com policiamento?”.

Para o presidente da Casa de Leis, deputado Jerson Domingos, “a situação é critica. Infelizmente não temos competência para legislar sobre o assunto, entretanto, iremos empenhar esforços junto à bancada nacional para buscar soluções para o problema”.

Jerson garantiu, ainda, que encaminhará uma cópia da gravação da audiência pública para todas as assembleias legislativas, a fim de que debates como este ocorram por todo o país.

“A situação é preocupante e do conhecimento de poucos. Temos que lutar pelo interesse da população brasileira que quer segurança. Não podemos permitir que cidadãos de bem tenham que se enclausurar em suas casas enquanto o crime organizado toma conta do país”.

 

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