Vítima de três atentados em SP, policial diz viver 24 horas armado

Data: 01/11/13

 

A onda de violência que deixou ao menos 370 mortos no estado de São Paulo, segundo a Defensoria Pública, entre maio a dezembro de 2012, afetou diretamente a vida do policial militar Marcos (nome fictício), de 45 anos. Ele conta ter sido vítima de três atentados no ano passado, que mudaram a rotina familiar: saídas de casa foram limitadas e câmeras de segurança foram instaladas na frente e dentro de casa. “Também não desgrudo de minha arma. Fico 24 horas por dia com ela. Até quando tomo banho levo para o banheiro.”

 

No primeiro ataque, os criminosos tentaram enganá-lo passando-se por entregadores. “Dois motoqueiros bateram na minha casa dizendo que traziam pizza. Eu não tinha pedido pizza nenhuma. Eles deram tiros, mas fugiram”, disse. “As outras duas eles tentaram me matar na porta de casa, quando eu voltava do trabalho”, conta.

 

Marcos saiu ileso fisicamente de todos os ataques. Interiormente, porém, viu brotar uma tensão permanente. Além de não desgrudar de sua arma, vive preocupado com a mulher e os filhos. Todos tiveram de se acostumar a evitar ficar até tarde na rua e a viver atentos ao menor sinal de perigo. “Hoje, eu é que sou o preso. Hoje, a minha esposa vive em cárcere. Hoje, os meus filhos vivem em cárcere. Essa é a verdade.”

 

Com o tempo, a tensão ganhou uma companheira, que é a revolta. Diariamente ele se lembra de todos os que prendeu e que acabaram soltos por brechas na lei ou por pagamento de fiança. “O policial é desmotivado. Não só pelo salário, mas pela frustração quando ele vê que não consegue deixar um bandido preso”, disse.

 

Para o policial, o maior problema que a segurança pública enfrenta atualmente não surgiu nos quartéis nem nas delegacias, mas nas casas legislativas. “A lei brasileira não permite que eu termine meu serviço, que é deixar o bandido preso na cadeia.” Além de normas que garantam a permanência do criminoso em cárcere, Marcos aponta a criação de uma lei específica que puna quem atacar policiais como os primeiros passos para vencer a guerra contra o crime organizado.

 

O descontentamento, porém, superou a esperança de mudança e o faz considerar seriamente abandonar 25 anos de carreira na PM. “Devido a esses níveis de violência que vivemos hoje, eu particularmente quero ir embora do Brasil”, afirmou. “Estou trabalhando, tirando do meu suor, honestamente, todos os dias, para ir embora do Brasil. Amo esse país e me dói muito querer ir embora. Sou patriota, mas não idiota.”

 

 

Violência


A onda de violência começou em maio de 2012, quando seis criminosos foram mortos pela PM na Penha, Zona Leste da capital paulista, segundo investigações do Ministério Público. Para vingar essas mortes, presos ordenaram ataques contra agentes. Os policiais reagiram e mataram integrantes da organização criminosa que atua dentro e fora dos presídios paulistas. Depois, criminosos passaram a incendiar ônibus, e moradores de comunidades carentes relataram toques de recolher.

 

De acordo com análise feita pelo Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos da Defensoria Pública, dos 370 mortos no estado durante a onda de violência, 50 eram agentes das forças de segurança estadual e municipais. “Infelizmente o policial hoje virou a caça”, disse o sargento Elcio Inocente, presidente da Associação dos PMs Portadores de Deficiência do Estado de São Paulo (APMDFESP).

 

A organização dá suporte para policiais incapacitados por ferimentos e para a família deles. A entidade possui clínica de fisioterapia e oferece atendimentos com psicólogos, fonoaudiólogos, terapia ocupacional, médicos, assistência jurídica e social, entre outros.

 

O sargento, que ficou paralítico após ser atingido por três tiros durante uma ocorrência de assalto com refém em 1979, lembra da época em que, apesar da violência, o policial não temia sair de casa fardado. “Houve o tempo em que o policial era o caçador. Ele prendia o marginal, ele era respeitado. Hoje, o policial, por andar uniformizado, é visto por todos e o marginal tem a possibilidade de ficar escondido.”

 

Presidente da Associação de PMs Deficientes fala que policial se tornou `alvo` (Foto: Kleber Tomaz / G1)

 

 

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