Em 30 dias, DF tem 38,7% mais homicídios do que em janeiro de 2013

Data: 31/01/14

 

A um dia do fim do mês de janeiro, o número de homicídios no Distrito Federal subiu 38,7% em relação ao mesmo mês do ano passado. De acordo com a secretaria de Segurança Pública, 68 homicídios haviam sido registrados no DF entre o dia 1º e a manhã desta quinta-feira (30), 19 a mais que nos 31 dias do mesmo mês de 2013.

Sem reajuste salarial, os policiais militares da capital deflagraram em outubro uma operação tartaruga, para cobrar reajuste salarial, reestruturação da carreira e pagamento de benefícios a PMs em atividade e policiais reformados. Eles dizem que só encerram o movimento quando o GDF negociar com a categoria.

Nesta quinta, o governador Agnelo Queiroz criticou o movimento e disse – sem detalhar as ações – que vai tomar todas as medidas para assegurar a segurança da população. “A Polícia Militar tem todo o direito de reivindicar, o que eles não têm direito é de colocar em risco a vida da população. O GDF vai tomar todas as medidas necessárias para que Brasília não se torne refém do medo", afirmou.

Na segunda-feira (27), o secretário de Segurança Pública, Sandro Avelar, admitiu pela primeira vez que o protesto dos policiais tem influenciado negativamente o índice de criminalidade em Brasília. Segundo ele, houve redução de 40% no número de armas apreendidas no período, em relação à média dos meses anteriores – de 130 para 80.

“Você vê [a queda de produtividade] em vários índices: você vê a queda na apreensão de armas de fogo, você vê a queda de recuperação de veículos roubados, você vê na elevação do número de homicídios. Por mais que o perfil das vítimas continue o mesmo, de maioria já envolvido com o mundo do crime, especialmente tráfico de entorpecentes ou vítimas de crime passional, de toda forma quando você tem menor número de armas de fogo circulando você tem uma redução também desse tipo de crime”, afirmou.

Avelar disse que o reajuste da categoria depende de repasses da União, que transfere verba para as áreas de segurança, saúde e educação pelo Fundo Constitucional. “Não tem condições de apenas pelo GDF resolvermos questões que envolvam aumento salarial da corporação, porque os recursos são oriundos da União, passam por projeto de lei que têm que ser encaminhados ao Congresso Nacional. É algo que é mais complexo, está fora do nosso alcance.”

Ele também criticou a operação tartaruga. “Não tem nada que justifique esse tipo de movimento porque há diálogo [da categoria] com o governo", afirmou na segunda.

O presidente da Associação dos Oficiais Reformados da Polícia Militar, Mauro Manoel Brambilla, nega que haja negociação aberta pelo governo. “Reivindicamos o diálogo sobre as promessas que o próprio governo fez. Pedimos que o governador se sensibilize e venha com uma proposta para que a gente possa encerrar de imediato [a operação]”, disse.

De acordo com ele, os policiais continuam cumprindo o seus deveres, mas deixaram de fazer tarefas a mais. “Antes, quando um crime acontecia, nós íamos ao local com a viatura e procurávamos informações que ajudavam na investigação. Agora o serviço perdeu em agilidade, pois deixamos a investigação para a Polícia Civil, que é quem investiga”, afirma o presidente da Associação dos Subtenentes e Sargentos da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros, tenente Ricardo Pato.

Ele diz que os policiais também passaram a trafegar com menos velocidade na busca por suspeitos de crimes. “Antes nós corríamos para identificar e prender o meliante o mais rápido possível. Agora estamos seguindo na velocidade da via. Até porque, se o policial capotar a viatura, quem tem de tirar do próprio bolso para pagar é o PM.”

Campanha
Nesta semana, os policiais militares colocaram outdoors em vários pontos de Brasília cobrando do governo o cumprimento de promessas de reajuste à categoria. Eles também convocam os policiais para um ato em frente ao Palácio do Buriti, sede do Executivo, no dia 13 de fevereiro. Atualmente, o DF tem 15 mil PMs e 6 mil bombeiros na ativa.

 

Outdoor sobre operação tartaruga instalado por militares do DF  (Foto: Eliomar Rodrigues/Divulgação)



A insatisfação dos policiais já foi gravada em vídeo. No dia 5 de dezembro, durante um café da manhã dentro do 11º Batalhão de Polícia Militar, em Samambaia, um sargento pega o microfone e diz ao secretário de Segurança que, caso a categoria não seja contemplada com reajuste salarial, os PMs “darão o troco” na Copa do Mundo.

"A Copa do Mundo `tá` vindo aí. E eu vou falar para o senhor, em nome de nossa categoria, é a nossa vontade. Se a Polícia Militar não for contemplada, como outros órgãos da Segurança Pública foram contemplados, o troco nós vamos dar na Copa do Mundo. O senhor secretário leve essa mensagem [ao governador Agnelo Queiroz]", diz o sargento.

 Segundo Avelar, a gravação ocorreu de maneira "clandestina". "Era uma conversa informal, que foi sendo noticiada como um ato unitateral", disse. "O sargento em uma conversa informal, expondo o ponto de vista dele. Eu também expus o meu, usando muito mais tempo que ele".

Congresso e empresários
Motivado pelo clima de insegurança, o senador Rodrigo Rollemberg (PSB) propôs a convocação de uma reunião da bancada do DF no Congresso Nacional para auxiliar na negociação entre o GDF e os PMs. A reunião não tem data para ocorrer.

“O diálogo precisa ser aberto imediatamente. A parte mais vulnerável é a população. O GDF tem de propor soluções concretas para essas questões e tomar medidas que melhorem a qualidade da segurança pública”, disse em nota.

 A questão da segurança vai ser debatida também por empresários do comércio nesta sexta-feira (31). A reuniçao deve contar com a participação de presidentes de sindicatos da Fecomércio e representantes da Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra), da Câmara de Dirigentes Lojista (CDL) e da Associação Comercial do DF (ACDF). Segundo os empresários, o objetico é entregar ao governar Agnelo Queiroz documento com sugestões para enfrentar a criminalidade.

Casos
Nos últimos dias, vários crimes ganharam destaque no Distrito Federal. Na tarde desta quinta, um homem foi esfaqueado na 504 Sul, por volta de 13h, depois de se desentender com um morador de rua, segundo a Polícia Militar. De acordo com o Samu, que fez o socorro da vítima, o homem foi atingido na região do punho e não corre risco de morte.

Pela manhã, um vigia de carros foi baleado por um policial militar à paisana, na 412 Sul. De acordo com testemunhas que presenciaram o disparo, o policial e o vigia também se desentenderam e brigaram. Ainda não se sabe o motivo da briga.

Entre a noite de quarta e a madrugada de quinta, dois homicídios foram registrados em Planaltina. Os crimes aconteceram no Arapoanga e no Setor Residencial Leste.


Na tarde de quarta, uma pessoa morreu e outra ficou ferida depois que dois homens atiraram contra um ônibus que circulava pela QNP 19, no P Norte, em Ceilândia.

Em Samambaia Norte, um posto de gasolina na quadra 433 foi assaltado seis vezes em apenas 11 dias. Os crimes aconteceram entre os dias 9 e 20 de janeiro deste ano sempre à tarde ou à noite. No domingo, 19 de janeiro, o posto foi assaltado duas vezes em um intervalo de sete horas.

Nesta quarta-feira, um corpo foi encontrado junto a um dos estacionamentos do Parque da Cidade, na região dentral de Brasília.

 

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