Sem 'tartaruga', PMs do DF dizem que vão 'abordar até gente do governo'

Data: 03/02/14

 

O vice-presidente da Associação dos Praças Policiais e Bombeiros Militares do Distrito Federal, sargento Manoel Sansão, afirmou na manhã desta segunda-feira (3) que a categoria ainda não foi notificada da decisão do Tribunal de Justiça determinando o fim da operação tartaruga, mas disse que a entidade vai recorrer assim que chegar o comunicado. Ele também disse que os militares acatarão a ordem, mas partirão para outra forma de manifestação.

“Vamos acatar, porque a gente respeita a Justiça. Só que aí vamos partir para outras operações. Vamos abordar todo mundo, inclusive gente do governo que a gente sabe que está irregular. Vamos colocar a criminalidade no zero. Vamos encher as delegacias. Não é isso que o governador quer? Então pronto. Então vamos ajudar a sociedade. Já que o governador não tem compromisso com os policiais e bombeiros, nós vamos mostrar que temos com a sociedade”, disse.

Ele não disse quem eram as pessoas que ele chamou de "gente do governo" nem quais eras as irregularidades supostamente cometidas por elas. Na quinta-feira passada, durante reunião do governador com a cúpula da segurança, Agnelo classificou a manifestação dos PMs de "política".

Sansão não quis comentar o teor da decisão, mas garantiu que os policiais seguem mobilizados. “Não vamos abrir mão da isonomia salarial, custe o que custar, nem que isso signifique prolongar por muito tempo essa luta nossa. Já estamos nessa luta há  um ano e três meses e radicalizamos nos últimos dois meses. E a gente continua, enquanto for necessário.”

Sem reajuste salarial, PMs do DF deflagraram em outubro a "operação tartaruga", enfraquecendo o policiamento ostensivo para cobrar aumento do salário, reestruturação da carreira e pagamento de benefícios aos que estão em atividade e reformados. Neste fim de semana, o Tribunal de Justiça acabou o pedido do Ministério Público para que a operação fosse declarada ilegal. O descumprimento da decisão tem como pen multa diária de R$ 100 mil.

Na manhã deste sábado (1º), durante entrega de novos ônibus no Recanto das Emas, o governador Agnelo Queiroz disse que a atividade da polícia já voltou ao normal.

"Hoje estamos em plena normalidade. A atitude individual de uma pequena minoria que por motivos políticos tenta colocar em risco a vida da população, estamos combatendo rigorosamente. Tomando todas as medidas de punição rigorosa", afirmou.

'Não foi ruim'
Mesmo com registro de pelo menos 11 homicídios durante este final de semana - apenas um a menos do que no anterior, o comandante-geral da Polícia Militar, Anderson Moura, afirmou na manhã desta segunda-feira (3) que o desempenho da corporação para conter a onda de violência no Distrito Federal “não foi ruim”. Desde sexta-feira, oficiais estão nas ruas para repreender a operação tartaruga e fiscalizar se os militares estão cumprindo as atividades.

“Não é [um resultado] ruim, até porque nós não temos controle sobre o número de homicídios. Boa parte [das vítimas] são pessoas envolvidas em algum tipo de delito. Nós lamentamos a ocorrência, mas é um tipo de delito que é difícil para a Polícia Militar combater. É difícil salvar vida de pessoas inseridas no mundo do crime”, afirmou Moura. “Nossa perspectiva é de que foi um final de semana produtivo para a PM.”

Questionado sobre como enxergar a atuação ostensiva da PM e diferenças em relação à criminalidade, o comandante disse que o "importante é mostrar o atendimento da PM à população". "Estamos procurando atender a todas as chamadas que estão ocorrendo, As pessoas têm que ver, porque nós fazemos policiamento ostensivo e preventivo", disse Moura.

Uma gravação que circulou por meio de redes sociais no final de semana afirmando que três facções estavam se organizando para cometer diversos homicídios no DF e no Entorno, o comandante-geral disse ter ficado tranquilo.

“Várias pessoas me ligaram preocupadas com esse tipo de notícia. Mas, olha, graças a Deus, em Brasília nós não temos facções criminosas, nossos bandidos aqui são pés-de-chinelo, são usuários de drogas, então vi com bastante tranquilidade e o final de semana mostrou que realmente não aconteceu aquilo que foi veiculado.”

Na última sexta, o governador Agnelo Queiroz reuniu a cúpula da segurança pública do DF para pedir que eles cobrem da tropa o cumprimento das atividades. Também entre as medidas para diminuir a sensação de insegurança, ficou determinado que os oficiais iriam as ruas, atuando junto à população e fiscalizando as atividades dos praças.

Segundo o governador, o movimento dos policiais tem “interesses políticos”. O governador não respondeu a perguntas dos jornalistas. Logo após o término da reunião, ele deixou o local.

“A vida é a coisa mais importante. A vida é mais importante que a política. Por isso que a PM tem a obrigação de garantir a segurança pública do DF. Nossa PM tem comando”, disse. “Não [podemos] admitir em hipótese alguma que meia dúzia de pessoas, com atitudes inclusive covardes, possam colocar em risco a segurança do nosso povo. [Eles] não têm direito de colocar a vida das pessoas em risco."

O comandante-geral da PM, Anderson Moura, disse que já identificou cinco policiais que estão à frente da operação tartaruga e que vai abrir procedimento disciplinar contra os responsáveis. A punição, segundo ele, pode ir de advertência a demissão.

Escalada da violência
A um dia do fim do mês de janeiro, o número de homicídios no DF subiu 38,7% em relação ao mesmo mês do ano passado. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, 68 homicídios haviam sido registrados no DF entre o dia 1º e a manhã desta quinta-feira (30), 19 a mais que nos 31 dias do mesmo mês de 2013.

Nesta sexta-feira (31), o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que o governo federal poderá ajudar no combate à violência no Distrito Federal caso haja um pedido formal do governador Agnelo Queiroz.

 

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