O inaceitável poder paralelo das gangues

Data: 13/02/14

 

A reportagem do O POVO, publicada ontem, com a localização geográfica de gangues criminosas que criam um “Estado” paralelo, determinando a vida da comunidade em 16 bairros de Fortaleza (enquanto outros 17 estão em vias de se submeter ao mesmo controle) impacta a opinião pública da capital e dá urgência a um debate mais profundo sobre a política de segurança pública a ser aplicada no Ceará, sobretudo na metrópole cearense.

Conflitos de territorialidade transformaram alguns bairros de Fortaleza em áreas tão arriscadas de atravessar, como algumas zonas de guerra do planeta. Os limites de circulação são impostos pelas gangues. Não importa se a pessoa está associada ou não aos criminosos: bastou residir numa determinada área do bairro, passa automaticamente a ser segregada pela gangue rival. Ou seja: a maioria da população (que é trabalhadora e ordeira) é obrigada a prestar vassalagem a um poder paralelo que faz pouco caso da autoridade do Estado. Às vezes, o simples atravessar de uma rua significa uma sentença de morte.

Esse tipo de situação constitui-se um retrocesso absurdo no processo social, político e cultural já percorrido pelo Brasil. Só pode ser explicado pela falta de sensibilidade das elites políticas e econômicas para partilhar minimamente seus ganhos e seu poder, afim de que todos possam ganhar. Não é por falta de diagnóstico dos problemas e de suas possíveis soluções, mas de vontade política, tanto dos atores públicos, quanto da própria sociedade civil, pois cabe a esta a opção pelo modelo social mais compatível com o interesse coletivo, fazendo a escolha correta das forças políticas que possam levar a cabo o projeto pretendido.

Setores esclarecidos do Ceará vêm martelando, há muito, que a questão da criminalidade não pode ser resolvida apenas pelos órgãos da segurança pública. Exige uma articulação de todos os setores do Estado, através de uma instância planejadora que tenha poder de fazer essa coordenação, e na qual a sociedade civil tenha
parte atuante.

Experiências referenciais existem, no Exterior e no Brasil - inclusive, aqui, próximo de nós, em Pernambuco, como bem expôs, nas próprias páginas deste jornal, um de seus principais responsáveis, o sociólogo pernambucano José Luiz Ratton. Resta-nos avançar nessa direção.

 

 

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