PF teme manifestações na Copa, mas não tem ideia da dimensão que terão

Data: 15/04/14

Durante a Copa do Mundo, que terá jogos em 12 capitais do país entre 12 de junho e 13 de julho, o maior temor, em termos de segurança, não é o de um ataque terrorista, mas as manifestações que podem ocorrer durante a competição, diz, em entrevista exclusiva ao G1, o delegado Felipe Seixas, coordenador nacional da segurança de grandes eventos da Polícia Federal

“As manifestações, sem dúvida, seriam hoje a nossa maior preocupação. A probabilidade delas acontecerem é altíssima, sabemos que irão acontecer, mas não sabemos exatamente qual a proporção. Pode ser que sejam piores ainda do que na Copa das Confederações. Pode ser que sejam mais violentas”, afirma o delegado.

“Sabemos que vai ter, mas não se sabe ainda exatamente qual vai ser a dimensão destes movimentos”, acrescenta. “Já um ataque terrorista, a gente acredita que não vai acontecer, e estamos trabalhando para que isso não ocorra. E, caso ocorra, que a resposta do Estado seja o mais rápido possível”.

Durante a Copa das Confederações, em junho de 2013, protestos ocorreram em diversas cidades do país pedindo melhorias no transporte público e na saúde, dentre outras reivindicações. Os atos levaram milhares de pessoas às ruas do país e, em muitos casos, terminaram de forma violenta, com depredações e confrontos. As polícias foram acusadas de excesso de uso de munição não letal, como gás lacrimogêneo, spray de pimenta e balas de borracha, que deixaram feridos em vários estados. A corporações disseram ao G1 que “foram pegas de surpresa” pela violência.

Problemas previstos
Entre os problemas que as manifestações podem provocar está o atraso da chegada das delegações aos estádios, atrapalhando o trânsito, ou impedindo o translado dos torcedores e delegações até os aeroportos. Para evitar que os jogadores fiquem presos no meio dos atos ou não cheguem a tempo das partidas, a PF trabalhará em conjunto com as policiais militares e a Polícia Rodoviária Federal para determinar as rotas.

Desde o desembarque no país, as comissões técnicas – compostas por 55 pessoas, entre jogadores e equipe de apoio - terão proteção aproximada de agentes federais.

“A gente não costuma priorizar as ameaças. Mapeamos todas elas e colocamos medidas para mitigar. Todas elas estão mapeadas, com análises de risco que vão determinar a probabilidade de cada situação ocorrer com cada equipe, em cada partida, em cada cidade”, explica.

Para o delegado, após a Copa das Confederações, as policias se prepararam para enfrentar os protestos que devem ocorrer neste ano e não será necessário o emprego de militares nas ruas. Em casos excepcionais, o governo do estado reconhece a incapacidade de atuação e pede intervenção federal.

“Eu acredito que os estados conseguem responder às manifestações. Desde então, houve investimentos em segurança, como a compra de armas menos letais, treinamentos da tropa. Além disso, a Força Nacional estará pronta para ajudar. Os militares só serão empregados se o estado reconhecer que suas forças não estão fazendo frente às ameaças e solicite ação federal, o que não acredito que ocorrerá. As forças de segurança têm experiência e maturidade para fazer frente a elas”, entende o delegado Seixas.

Responsabilidades
A PF coordenará, em Brasília, um centro de inteligência, em que estarão presentes policiais de todos os 32 países que terão seleções na Copa e mais 15 países convidados, e também um centro de antiterrorismo, que permitirá checar as informações de estrangeiros nos bancos de dados do mundo todo em tempo real. Os policiais estrangeiros também acompanharão turistas e torcedores durante os jogos, apoiando em traduções caso algum deles seja levado para uma delegacia, como suspeito ou vítimas de um crime.

Agentes da Polícia Federal também serão responsáveis pela escolta e deslocamento de chefes de Estado, de governo e outras autoridades que devam receber tratamento diferenciado conforme orientações do Ministério de Relações Exteriores, além da fiscalização de imigração e proteção de aeroportos e zonas marítimas. Dentro dos estádios, a PF fará, com os militares, varreduras para verificar se não há explosivos ou armas químicas, bacteriológicas ou nucleares.

“Nos estádios, a responsabilidade é da Fifa, que terá um efetivo grande de segurança privada para controle de acessos e de fluxos e verificação de tickets e de assentos. A segurança pública terá alguns destacamentos recolhidos, que só atuarão em última ocasião. Se houver um atentado terrorista, é porque a segurança já falhou. Por mais que a resposta seja eficiente, que o terrorista seja preso e as vítimas atendidas, terá havido várias falhas anteriores que permitiram que isso acontecesse”, acredita ele.

Em casos de ataques terroristas, a PF vai iniciar o gerenciamento da crise, afirma o delegado. A prevenção e a repressão em casos de terrorismo estão nos plano do Ministério da Defesa para o evento como uma de suas responsabilidades.

"Isso não significa que os militares assumirão a negociação. Pode ser que se mantenha a mesma equipe da PF. O que ficou entendido é que as forças de segurança terão a primazia de ação, mesmo em caso de terrorismo”, diz.

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