‘Já conseguimos tirar do crime 14 soldados do tráfico com o projeto’

Data: 02/06/14

NITERÓI - Sandro Araújo pode ser definido como um homem de mil faces. Na mesma pessoa convivem o policial federal, o estudioso da área de segurança pública, o professor de física e matemática e o instrutor de artes marciais. É justamente desse caldeirão de ocupações e áreas de interesse tão diversas que surgiu o projeto social Geração Careta, que oferece aulas de artes marciais e pré-vestibular gratuitamente para jovens de todas as classes, sobretudo moradores de comunidades carentes.

O embrião da ideia surgiu em 2003, quando Sandro, hoje com 43 anos, casado e pai de três filhos, começou a ministrar palestras de prevenção às drogas nas escolas de Niterói. Em 2009, as atividades gratuitas no Complexo de Caio Martins, em Icaraí, foram iniciadas. Sandro diz que sua vida como policial exigiu que fizesse algo de concreto:

— Em 18 anos de polícia, você vê que a mera reação não resolve. Comecei a me incomodar muito com a realidade que via durante as operações. Eu dava palestras, mas achava que nas aulas podia ser um exemplo positivo para eles.

O projeto já atendeu 3.500 jovens com aulas de muay thai, arte na qual Sandro é mestre, e jiu jítsu. Todos precisam apresentar bom desempenho na escola para continuar fazendo parte do projeto. Para acompanhar a rotina escolar dos protegidos, Sandro e os demais voluntários vão até as escolas:

— Tivemos o caso de um aluno que chegou aqui todo marcial, fazia reverência aos mestres e tudo mais. Só que na escola ele era terrível, segundo o diretor. Dissemos que ele só ia continuar se fosse marcial na vida, não só aqui. Hoje a família nos agradece e ele está na nossa equipe de competição.

Atualmente são 300 alunos, divididos entre iniciantes e competidores, que têm conquistado vários títulos estaduais e nacionais.

— Uma aluna nossa vai disputar o mundial de muay thai na Tailândia — orgulha-se Sandro, que também dá aulas no pré-vestibular, atualmente com 25 alunos e vagas disponíveis — conta, lembrando que todos os participantes do projeto são voluntários. O grupo também organiza campanhas para receber doações de material esportivo para o uso dos alunos.

Contudo, não é o sucesso no esporte o maior motivo de orgulho de Sandro em relação aos seus alunos. As histórias de jovens que deixaram problemas de conduta para trás através da disciplina das artes marciais são muitas. Ele destaca casos mais dramáticos:

— Com o projeto, já conseguimos tirar 14 soldados do tráfico do crime.

Pós-graduado em segurança pública, o policial federal não se considera um especialista da área. Ainda assim, usou o Facebook para mobilizar um grupo de insatisfeitos com a violência na cidade a participar de uma reunião. O encontro deu origem ao abaixo-assinado entregue durante a audiência pública da segurança, na última segunda-feira, com 3.500 adesões.

— Fui eu quem tirou o pessoal da frente do computador. Uma das coisas que questionei a eles é: vocês falam da polícia, mas sabem como ela funciona? Falam que os serviços públicos precisam subir a favela, mas vocês já subiram? — explica.

A opção de lidar diretamente com jovens carentes não foi um mar de flores para ele, que acabou por se confrontar diretamente com a lógica militarizada das polícias, que elegem, na sua opinião, inimigos a combater dentro da sociedade:

— Desde o começo do projeto, uma parcela grande da Polícia Federal me critica. Tentei até que essa iniciativa fosse institucional e ocorresse dentro da corporação, mas não foi possível. Mas também há um grupo de policiais que está entre os nossos maiores incentivadores.

Sandro também exercita sua veia de escritor. Ele está finalizando seu terceiro livro, intitulado “Linha Vermelha”, que será lançado este ano. Anteriormente lançou o romance “Anjos da Noite” e o livro de crônicas “Federal, uma história de problemas”, no qual coloca o dedo nas feridas abertas na corporação.

 

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