Que vai ter Copa, sabemos todos. Que copa vai ser? Aí é que são elas

Data: 12/06/14

 

Lá se vão mais de 11 anos desde que o Brasil notou estar desacompanhado na pretensão de sediar a Copa do Mundo de 2014. Março de 2003 passava um pouco da metade quando a Conmebol avalizou candidatura única brasileña, evidenciando que a tentativa de “vaquinha” arquitetada por Equador, Colômbia, Peru e Venezuela havia mesmo tomado o caminho do brejo. “Dia muito feliz”, celebrou o então presidente-quase-vitalício da entidade sul-americana, Nicólas Leóz.

No Brasil, parece, ninguém percebeu, mas “dia muito feliz”, em espanhol, significava “fale agora ou cale-se para sempre”. Era ali o momento. A cerimônia de 2007, convescote com governos federal, estaduais e municipais em Zurique, além de mera formalidade, tinha outro significado: “Pode beijar a noiva”, sentenciava. Na hora de protestar, perdemos os dois bondes, lamento.

Que vai ter Copa, sabemos todos. Que copa vai ser? Aí é que são elas.

Vai ser Copa de Neymar, o protagonista midiático, que, em meio aos escolhidos de Scolari, se apresenta na condição de candidato único a herói, tal qual o Brasil há 11 anos. Vai ser Copa de Messi. Não importa o que ocorra com o pequenino. Para o bem (Maradona-86) ou para o mal (Maradona-94), Messi atrai o magnetismo da vizinhança que odiamos admirar e do rival que adoraríamos derrotar.

Será a Copa de Cristiano Ronaldo, melhor do mundo em bola e marra, que pode até naufragar antes do descobrimento, mas — certeza — vai suar gel para transformar dor em realismo, herança de Eça, de Antero, de Cesário…

Mais do que o clichê que se ergue a cada quatro anos, anunciando um congraçamento de nações em prol do esporte, a Copa vai ser mesmo, anote aí, festa dos estados. Do Amazonas ao Rio Grande, com reincidentes escalas em Brasília, o Mundial insistirá em desvendar, até mesmo para os brasileiros, facetas regionais de sabores agridoces.

Vai ser Copa de estádios, aeroportos, mobilidade urbana... Do mesmo modo que será Copa de saúde, educação e segurança. “Ópio do povo”, o futebol, vai entender, nunca fez um país discutir tanto questões sociais e as próprias limitações como nos últimos 12 meses.

Melhor que será a Copa dos black blocs no lugar da Copa de Michel Teló, esse sim uma ameaça que se anunciava em 2011, tão perigosa quanto Elkeson, Diego Souza e Borges de posse da camisa amarela naquele ano. Afinal, “se eu te pego” ou não, é informação que de nada serve numa era em que tudo é personalizável. Menos mal.

Personalizáveis também serão nossos canais de expressão. Será a Copa em que a forma de torcer, chiar, interagir mudou para sempre. Vai ser Copa de uma, duas, meia dúzia de redes sociais, frenéticas antes, enquanto e depois de a bola rolar. Vias de conexão em mão dupla — uma coleção de selfies que não discrimina cor de pele, camisa ou conta bancária. Você fotografa daqui, Balotelli fotografa de lá e todos recheiam o álbum da história das Copas, cada um a sua maneira.

Do mesmo modo que cada um criticará a sua maneira. Será a copa democrática.

Nessa democracia, entra em campo um confronto quase invisível. Vai ser Copa de críticas, especialmente da imprensa internacional, à esquerda das cabines de tevê. Vai ser Copa de patriotismo, à direita. O apito inicial desse jogo já soou. Você que ainda não ouviu. Se sempre somos patriotas de quatro em quatro anos, nesta Copa multiplicamos o sentimento por 64. Maracanazo feelings.

Por fim, que seja a Copa da Seleção Brasileira de futebol. Aquela que impulsionará uma torcida apaixonada, em sete escalas até a final, culminando numa apoteose padrão seis estrelas. Se nos últimos 11 anos sonhamos todos com o pontapé que se inicia nesta tarde, nos próximos 31 dias, enfim, reviveremos esse sonho, agora acordados, diante dos nossos olhos, ao vivo, em nossa casa.

Se é possível prever um único resultado, vai ser Copa. Copa, acima de tudo, da saudade. No bolão, só nisso dá para apostar.

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