Especialistas cobram mais iniciativa do Ministério Público no controle das polícias

Data: 04/08/14

São Paulo – O Ministério Público deveria acompanhar de perto a atividade policial no país, não apenas com vocação repressiva, agindo para punir desvios de conduta, mas sobretudo garantindo a excelência da formação dos policiais, a boa aplicação do orçamento das forças de segurança e a constitucionalidade dos regimentos internos, além do respeito aos direitos humanos dos cidadãos e dos próprios membros da corporação.

 

A proposta é do professor Ignácio Cano, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que deu o tom no debate sobre o papel do Ministério Público na segurança pública ocorrido na última quarta-feira (30) na Fundação Getúlio Vargas (FGV), na Bela Vista, região central de São Paulo. A discussão integra a programação do 8º Encontro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que reúne acadêmicos, promotores, gestores públicos, ONGs e policiais militares, civis e federais para debater um dos temas mais prementes do país.

 

“Hoje em dia, o controle externo das polícias pelo Ministério Público se limita à análise de documentos, e não se debruça sobre a atividade policial propriamente dita”, afirmou Cano, atestando que existe “amplo campo” para que os promotores se façam mais presentes entre as forças de segurança. “Por exemplo, o MP pode ir às academias de polícia e verificar como é o treinamento dos policiais, para ver se é respeitoso para a sociedade e para os próprios policiais, e oferecer capacitação.”

 

Cano propõe ainda que os promotores se façam presentes em situações nas quais existe “grande probabilidade” de violação de direitos, como manifestações públicas e ações de reintegração de posse, para garantir que tudo seja feito conforme determina a lei. “O MP também poderia conferir a qualidade do serviço prestado pelos policiais à cidadania, e os regulamentos disciplinares das corporações. Muitos desrespeitam a Constituição.”

 

Ao lembrar que os promotores possuem autonomia para ajuizar ações civis públicas e termos de ajustamento de conduta, o professor da UFRJ sugere que busquem garantir, na Justiça, melhores condições de trabalho aos membros das polícias civis e militares, além de observar a correta aplicação do orçamento em segurança pública. “O controle é importante para preservar a dignidade da sociedade e dos próprios policiais”, defende Cano. “Para isso, é preciso que essa atribuição do MP seja regulamentada. Ainda não é.”

 

Presente ao debate, o ouvidor das polícias do estado de São Paulo, Júlio César Fernandes Neves, recorreu a um caso recente para ilustrar a necessidade de maior controle do MP às atividades policiais: o assassinato da atriz Luana Barbosa, 25 anos, atingida por um policial militar em Presidente Prudente em 27 de junho. Neves lembrou que a Ouvidoria tem trabalhado para que o caso seja julgado pela Justiça comum, e não pela Justiça Militar.

 

“Por mais que o PM não tenha tido intenção de matar, há no mínimo dolo eventual. E homicídios dolosos devem ser analisados pelos tribunais civis”, lembra, relatando uma série de gestões que se viu obrigado a fazer para que o inquérito fosse encaminhado para as devidas instâncias – e não abrisse um “precedente perigoso” em termos de letalidade policial. “O ideal é que o MP tivesse feito isso. Ouvidor existe apenas um para o estado inteiro. Promotores, há vários espalhados em cada comarca de São Paulo.”

OUTRAS NOTÍCIAS

Levantamento alerta para direitos do servidor público estudante

1ª Turma mantém júri do caso Villela

Agente da PF ganha direito de remoção após ser vítima de assédio

Texto da reforma da Previdência é aprovado na CCJ