Questionário e informe são as únicas armas contra ebola na fronteira do AC

Data: 24/10/14

     

                             Imigrante haitiano recebe folheto com informações sobre ebola (Foto: Yuri Marcel/G1)

Na principal entrada de imigrantes no Acre, a alfândega de Assis Brasil, distante 342 km de Rio Branco, um grupo de cinco haitianos responde a um questionário da agente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ela busca por sintomas de doenças que os imigrantes possam ter tido na viagem até o Brasil. Depois, entrega um papel em português com orientações sobre o vírus ebola, antes de o grupo seguir até a sede da Polícia Federal no município de Epitaciolândia, a 106 km dali. O questionário e o folheto são as únicas armas usadas na fronteira contra a entrada do ebola no país.

O grupo do haitiano Juan Gourdet levou nove dias para chegar ao Brasil pelo Acre. Como disseram que não tiveram alergia ou sintomas como vômito, febre ou diarreia, foram liberados para seguir viagem.

No dia 13 de outubro, o ministro da Saúde Arthur Chioro disse em entrevista que medidas de prevenção contra o avanço da doença no país estão sendo adotadas, incluindo simulações em portos e aeroportos. Chioro se pronunciou após um guineano ter entrado no Brasil e apresentado sintomas semelhantes ao do vírus ebola. Os dois exames feitos deram negativo para a doença.

Em setembro, agentes da Polícia Federal que atuam na fronteira do Acre com o Peru e Bolívia reivindicaram a presença constante de uma equipe do Ministério da Saúde para auxiliar na triagem dos imigrantes, por medo de terem contato com o vírus. No entanto, na última segunda-feira (13), apenas uma servidora da Anvisa estava no local para atender os imigrantes.

      

                        Agentes da Polícia Federal em Assis Brasil usam luvas para abordar imigrantes (Foto: Yuri Marcel/G1)

Embora nenhum policial federal tenha concordado em dar informações, a reportagem do G1 pôde perceber que apenas dois agentes utilizavam luvas de látex para abordar veículos.

O infectologista Thor Dantas alerta que apenas o uso de luvas por parte dos agentes da PF na fronteira não é suficiente, caso esses profissionais cheguem a ter contato com pessoas suspeitas da doença.

“Se você tem contato com alguém suspeito de ter ebola, com febre, precisa de um aparato de proteção mais exigente do que apenas luvas, o que incluiria protetor facial, porque o indivíduo pode respingar na boca e olho, máscaras e aventais impermeáveis. As secreções podem contaminar roupa, o corpo, o braço e pode, passando a mão no corpo, levar à boca ou aos olhos e se infectar”, alerta.

O especialista destaca a importância de se fazer uma triagem na fronteira, identificando, principalmente, se o viajante vem de um país com casos da doença e se tem ou não sintomas.

“O papel central dos agentes de fronteira seria identificar indivíduos que vem de área de transmissão de ebola. A África tem mais de 50 países e em apenas três desses há a transmissão ativa do ebola. Se o indivíduo chega de um país que não existe casos, isso não é motivo de preocupação. Se ele chega desses três países, Libéria, Serra Leoa e Guiné, ele tem risco de transmissão”, diz.

Outro ponto importante, segundo o infectologista, é saber há quanto tempo esse imigrante saiu do país de origem. Pelo tempo de viagem que os imigrantes africanos levam até chegar ao Brasil, o médico crê que o risco de o ebola chegar é pequeno.

“O que temos de informação é que o tempo de viagem médio dos que saem dos países africanos é de 45 dias. Nesse tempo, é quase impossível de chegar alguém aqui com ebola.  Em uma longa viagem ele adoece no caminho e pode até morrer dado a gravidade da doença. Se ele vem de maneira rápida, é possível que ele chegue ainda no período de incubação”, afirma.
 
O G1 procurou a agente da Anvisa na alfândega para ter mais informações sobre o trabalho na fronteira, mas foi informado de que apenas um coordenador da agência em Rio Branco poderia responder.

O Ministério da Saúde informou ao G1 que o órgão, juntamente com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), repassou orientações para as equipes locais dos estados que fazem fronteira com outros países. As orientações se referem apenas a questões de saúde dos imigrantes, qual o país de origem deles e se estão sentindo algum sintoma.

Ebola
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a África Ocidental enfrenta a maior epidemia de ebola em número de pessoas contaminadas, vítimas fatais e extensão geográfica, desde a descoberta da doença em 1976.

Transmissão
O infectologista Thor Dantas explica que a transmissão do ebola se dá por meio do contato direto das mucosas [olhos, nariz e boa] ou feridas na pele com secreções [urina, sangue, vômito, fezes] de pessoas infectadas.

Ele ressalta que o indivíduo doente só transmite o vírus a partir do momento em que começa a apresentar sintomas. “Essa é uma característica que favorecem o controle, porque só passa a transmitir a partir do momento que ele apresenta febre. O suor também pode ser uma fonte de transmissão, não é uma das secreções das mais ricas, mas um indivíduo gravemente acometido pela doença e com um nível grande de vírus no organismo pode também eliminar em lágrima, no suor e na saliva”, enfatiza.

O médico destaca que a transmissão de forma indireta também é possível. “O indivíduo deixa a secreção dele no ambiente. É preciso fazer um processo de limpeza no local”, diz.

Rota de Imigração
Desde 2010, o Acre se estabeleceu como rota de imigração, principalmente para haitianos que deixaram sua terra natal, após um terremoto que devastou a capital do Haiti, Porto Príncipe, e uma epidemia de cólera que se seguiu ao desastre. A rota também passou a ser utilizada por imigrantes de países como a República Dominicana e o Senegal.

De acordo com dados da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Acre (Sejudh), pouco mais de 20 mil imigrantes já passaram pelo estado nos últimos três anos e meio

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