Operação Lava-Jato levará Dilma a manter Cardozo e Daiello
Data: 22/12/14
A presidente Dilma Rousseff está fazendo ampla reforma no governo para o segundo mandato, mas já decidiu que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, permanecerá no cargo, provavelmente por mais um ano. O atual diretor da Polícia Federal, Leandro Daiello, também deverá continuar à frente da instituição por longa temporada. Uma das razões para a permanência dos dois é simples: a presidente não quer mexer no comando de uma área tão estratégica enquanto estiver em andamento a Operação Lava-Jato.
Interlocutores da presidente entendem que qualquer mudança na área agora aumentaria a dúvida sobre como lidar com a questão. As investigações já atingiram ex-diretores da Petrobras, executivos de grandes empreiteiras e aproximadamente 30 deputados, senadores e governadores, entre outros políticos, conforme relato do ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa. O Palácio do Planalto também entende que eventuais mudanças no Ministério da Justiça e na PF dariam margem à interpretação de que o governo está tentando interferir no andamento da investigação.
Dilma também teria decidido manter Cardozo no cargo porque o ministro tem tido papel importante na linha de defesa do governo contra denúncias que surgem na Lava-Jato. O ministro foi o primeiro a contestar publicamente a suspeita de que parte do dinheiro de um dos empreiteiros investigados abasteceu a campanha da presidente em 2010. Em meio a críticas da oposição, o ministro alegou que a doação foi devidamente registrada. Disse também que o dinheiro foi para o PT, e não para a campanha da presidente.
A permanência de Cardozo e de Daiello não foi anunciada oficialmente, mas a medida é dada como certa, e até já esvaziou o movimento pela troca de comando na PF. Recentemente, a Associação Nacional dos Delegados chegou a fazer uma lista com três nomes para apresentar ao futuro ministro como sugestão. Os mais votados foram Roberto Troncon (superintendente em São Paulo), Sérgio Fontes (ex-diretor da Academia Nacional de Polícia) e Sérgio Menezes (superintendente em Minas Gerais).
O governo, no entanto, não vê com bons olhos a tentativa da associação de indicar o diretor-geral da PF. Na bolsa de apostas internas apareciam com força também o atual diretor-executivo, Rogério Galloro, e Oslain Santana, diretor de Combate ao Crime Organizado.
DENÚNCIAS NA CAMPANHA AUMENTAM DESCONFIANÇA
Auxiliares da presidente Dilma Rousseff até hoje atribuem aos desdobramentos da Operação Lava-Jato a redução da diferença entre ela e Aécio Neves (PSDB) no segundo turno das eleições. O primeiro revés foi a divulgação de que, segundo o doleiro Alberto Youssef, Dilma e o ex-presidente Lula sabiam das fraudes na Petrobras. O segundo foi a internação de Youssef em um hospital de Curitiba dois dias antes das eleições. A internação repentina alimentou boatos de que o doleiro, delator do esquema de corrupção, teria sido envenenado por aliados do governo.
As feridas desta campanha e de eleições anteriores deixaram os auxiliares mais próximos da presidente ainda mais desconfiados sobre qualquer assunto relacionado à Polícia Federal. O temor tem ganhado contornos de paranoia. Recentemente, um assessor do Palácio do Planalto se esquivou de um encontro com um assessor da PF com receio de que, se a conversa viesse a público, poderia ser interpretada como uma tentativa de interferência do governo na PF por causa da Operação Lava-Jato.
Com tantas nuances em jogo, a presidente teria resolvido deixar as trocas no Ministério da Justiça e na PF para ocasião menos tensa no futuro.
NOME DE LACERDA É VENTILADO
Um grupo de delegados mais experientes tem defendido também a volta do ex-diretor Paulo Lacerda, que comandou a Polícia Federal num dos momentos importantes da instituição. Ele comandou a PF no início do governo do ex-presidente Lula, quando foram deflagradas operações que atingiram políticos e outras autoridades.
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A gestão de Lacerda à frente da PF foi lembrada esta semana num discurso de Lula no Ministério da Justiça, num evento sobre a reforma do Judiciário. Ao homenagear o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, Lula citou o trabalho de Lacerda. Antes, o ex-presidente atacou governos do PSDB, onde, segundo ele, “ricos e poderosos” não eram alcançados nas investigações.
- Para romper essa relação viciosa, Márcio escolheu um delegado reconhecido, o Paulo Lacerda - disse Lula.
Lacerda agradece a lembrança dos colegas, mas tem dito que está bem na iniciativa privada e que, não pretende, pelo menos por enquanto, voltar a ocupar cargos públicos. A PF tem tido cada vez mais importância no xadrez político. Peça-chave no combate à corrupção, a PF esteve à frente de investigações que balizaram campanhas presidenciais desde 2002.
Interlocutores da presidente entendem que qualquer mudança na área agora aumentaria a dúvida sobre como lidar com a questão. As investigações já atingiram ex-diretores da Petrobras, executivos de grandes empreiteiras e aproximadamente 30 deputados, senadores e governadores, entre outros políticos, conforme relato do ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa. O Palácio do Planalto também entende que eventuais mudanças no Ministério da Justiça e na PF dariam margem à interpretação de que o governo está tentando interferir no andamento da investigação.
Dilma também teria decidido manter Cardozo no cargo porque o ministro tem tido papel importante na linha de defesa do governo contra denúncias que surgem na Lava-Jato. O ministro foi o primeiro a contestar publicamente a suspeita de que parte do dinheiro de um dos empreiteiros investigados abasteceu a campanha da presidente em 2010. Em meio a críticas da oposição, o ministro alegou que a doação foi devidamente registrada. Disse também que o dinheiro foi para o PT, e não para a campanha da presidente.
A permanência de Cardozo e de Daiello não foi anunciada oficialmente, mas a medida é dada como certa, e até já esvaziou o movimento pela troca de comando na PF. Recentemente, a Associação Nacional dos Delegados chegou a fazer uma lista com três nomes para apresentar ao futuro ministro como sugestão. Os mais votados foram Roberto Troncon (superintendente em São Paulo), Sérgio Fontes (ex-diretor da Academia Nacional de Polícia) e Sérgio Menezes (superintendente em Minas Gerais).
O governo, no entanto, não vê com bons olhos a tentativa da associação de indicar o diretor-geral da PF. Na bolsa de apostas internas apareciam com força também o atual diretor-executivo, Rogério Galloro, e Oslain Santana, diretor de Combate ao Crime Organizado.
DENÚNCIAS NA CAMPANHA AUMENTAM DESCONFIANÇA
Auxiliares da presidente Dilma Rousseff até hoje atribuem aos desdobramentos da Operação Lava-Jato a redução da diferença entre ela e Aécio Neves (PSDB) no segundo turno das eleições. O primeiro revés foi a divulgação de que, segundo o doleiro Alberto Youssef, Dilma e o ex-presidente Lula sabiam das fraudes na Petrobras. O segundo foi a internação de Youssef em um hospital de Curitiba dois dias antes das eleições. A internação repentina alimentou boatos de que o doleiro, delator do esquema de corrupção, teria sido envenenado por aliados do governo.
As feridas desta campanha e de eleições anteriores deixaram os auxiliares mais próximos da presidente ainda mais desconfiados sobre qualquer assunto relacionado à Polícia Federal. O temor tem ganhado contornos de paranoia. Recentemente, um assessor do Palácio do Planalto se esquivou de um encontro com um assessor da PF com receio de que, se a conversa viesse a público, poderia ser interpretada como uma tentativa de interferência do governo na PF por causa da Operação Lava-Jato.
Com tantas nuances em jogo, a presidente teria resolvido deixar as trocas no Ministério da Justiça e na PF para ocasião menos tensa no futuro.
NOME DE LACERDA É VENTILADO
Um grupo de delegados mais experientes tem defendido também a volta do ex-diretor Paulo Lacerda, que comandou a Polícia Federal num dos momentos importantes da instituição. Ele comandou a PF no início do governo do ex-presidente Lula, quando foram deflagradas operações que atingiram políticos e outras autoridades.
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A gestão de Lacerda à frente da PF foi lembrada esta semana num discurso de Lula no Ministério da Justiça, num evento sobre a reforma do Judiciário. Ao homenagear o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, Lula citou o trabalho de Lacerda. Antes, o ex-presidente atacou governos do PSDB, onde, segundo ele, “ricos e poderosos” não eram alcançados nas investigações.
- Para romper essa relação viciosa, Márcio escolheu um delegado reconhecido, o Paulo Lacerda - disse Lula.
Lacerda agradece a lembrança dos colegas, mas tem dito que está bem na iniciativa privada e que, não pretende, pelo menos por enquanto, voltar a ocupar cargos públicos. A PF tem tido cada vez mais importância no xadrez político. Peça-chave no combate à corrupção, a PF esteve à frente de investigações que balizaram campanhas presidenciais desde 2002.