Federal - Uma história de Polícia

Data: 09/02/15

O livro de autoria do agente federal, Sandro Araújo, reúne crônicas reais do cotidiano da Polícia Federal, ao longo de 18 anos de carreira. Relançado pela editora Mirenax, a obra mostra os bastidores e a realidade das operações, tendo como personagens alguns dos mais legendários policiais federais do país.

 

"Aqui histórias reais de muitos anos dedicados a uma bandeira, um órgão, que é grande, mas sofre imerso em uma estrutura que precisa se modernizar", desabafa o autor em sua rede social.

 

O APF disponibilizou ao site da Fenapef uma das crônicas do livro:

 

O Caso dos Assaltantes Sorridentes

Este fato ocorreu em meados de 2003, com a unidade de Pronto Emprego da Delegacia de Niterói, que chefiei durante quase três anos. A missão era no bairro do Salgueiro, em São Gonçalo, considerado um dos piores locais, área de risco de primeira grandeza. A equipe, que usualmente contava com cinco elementos, naquele dia estava com apenas quatro.
Antes de nos dirigirmos ao Salgueiro para a missão, Beto, o integrante mais jovem da equipe, pediu que passássemos no bairro de Icaraí, em Niterói, mais precisamente na Rua Álvares de Azevedo, uma das mais movimentadas do bairro, a fim de buscar uma certidão de óbito de uma pessoa intimada a comparecer à Delegacia. Isso foi às 10h da manhã.
Paramos a Blazer ostensiva diante do prédio e enquanto Beto esperava a cidadã descer com a certidão de óbito, percebemos a aproximação de uma senhora, com gesso nos dois braços, acenando desesperadamente para nós. Imediatamente, eu e Bob fomos de encontro a ela, que rapidamente informou que havia sido assaltada no sinal e que um grupo de marginais ainda estava ali, fazendo um estrago com os carros parados.
Corremos para esquina e quando os cinco assaltantes perceberam a nossa aproximação, correram pela Álvares de Azevedo, na contramão, disparando um revólver calibre 38 na nossa direção. Como Beto se encontrava dentro do prédio e não viu a aproximação da moça e Marquinho era o piloto da Blazer, coube a mim e ao Bob a perseguição a pé, pela rua. Assim que o grupo atingiu uma transversal, acabamos por perde-los de vista, mas transeuntes disseram que os cinco haviam embarcado em um ônibus que ia para o Centro. De forma sensacional, Marquinho, o maior piloto de viaturas que já conheci na Polícia Federal guiou a Blazer pela contramão e chegou até nós, segundos depois de obtermos a informação da entrada dos bandidos no ônibus. Passamos por alguns ônibus da mesma linha, até que na Praia de Icaraí, em frente a Clube de Regatas Icaraí, identificamos um dos assaltantes, que era um rapaz negro, com os cabelos totalmente descoloridos. Em poucos instantes, fechamos o ônibus e fizemos uma entrada tática, acabando por prender os cinco, que a essas alturas, já tinham se livrado do 38, jogando-o pela janela do ônibus numa caçamba de lixo, como a Polícia Militar pôde confirmar mais tarde.
Colocamos os cinco na “caçapa” da Blazer e eu disse o seguinte: “Olha só, meus camaradas. Vocês viram que a gente pegou vocês na boa, sem esculachar. Na moral mesmo. Agora vamos levar vocês para ver se a galera assaltada reconhece. Mas tem uma coisa! Não vão entrar numa de fazer cara de puto, de irado, para intimidar as pessoas lá. Vamos combinar uma coisa. Assim que eu abrir a “caçapa”, quero os cinco rindo, com a maior simpatia. Vamos lá. Dêem uma treinada aí.”
Não preciso dizer que Bob e Marquinho não se agüentaram quando viram os cinco bandidos “treinando” o sorriso. Pior ainda foi quando chegamos ao cruzamento da Álvares de Azevedo com Tavares de Macedo, onde os assaltados se aglomeravam junto a outros populares, esperando o resultado da nossa ação. Quando abri a “caçapa”, para surpresa de toda aquela gente, os cinco assaltantes estavam com sorrisos ( amarelos, é verdade ) colados no rosto. Foram reconhecidos sorrindo e só fizeram cara de triste quando perceberam que iam ficar presos de verdade. Acabou que a missão do Salgueiro foi até adiada, mas aquele dia já valeu à pena, porque uma das raças mais covardes de bandido é o tal do assaltante, que escolhe sua vítima pelo tamanho da fragilidade. Quanto mais frágil, mais fácil para eles.

 

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