Ao optar por inquéritos, Janot retarda punições e alivia tensão de políticos

Data: 09/03/15

Para federação dos policias federais, inquérito ‘expediente burocrático’; líder do PSOL diz que esperava indiciamentos

A opção do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em pedir a abertura de inquérito em vez de apresentar logo a denúncia que tornaria réus os políticos envolvidos na Operação Lava Jato é uma faca de dois gumes: mostra o amadurecimento de instituições que querem evitar a espetacularização robustecendo provas, mas também acaba retardando a punição de eventuais culpados.

"O inquérito é um expediente burocrático, que atrasa a aplicação da lei", diz o presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Jones Leal. "Para evitar a prescrição de alguns crimes, em alguns casos ele poderia ter entrado direto com a denúncia", afirma o agente. Há mais de cinco anos a Fenapef vem travando cerrado embate pela extinção do inquérito policial, peça que, segundo Leal, entrou em desusos nos países com sistemas judiciais avançados.

O líder do PSOL na Câmara, deputado Ivan Valente (SP) acha que o aprofundamento das investigações pode ser bom para melhorar as provas e dar mais consistência a acusação, mas diz que esperava mais. “Minha expectativa era a de que os nomes da lista viessem já indiciados”, afirma. Segundo ele, a cautela de Janot pode permitir que a nova CPI da Petrobras alcance outros esquemas de corrupção ainda não descobertos pela força tarefa do Paraná.


Os dois principais delatores da Lava Jato, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e o doleiro Alberto Youssef, estão colaborando com o Ministério Público Federal há mais de seis meses e seus depoimentos vêm sendo submetidos a uma rigorosa checagem pela força tarefa, o que poderia ter amparado a denúncia. A opção pelo inquérito retarda a abertura da ação penal.

 A demora interessa especialmente aos presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que agora aparecem apenas como investigados. Caso tivessem sido denunciados, Teori Zavascki estaria analisando a abertura da ação penal, o que os tornaria réus e alvos de pressão para que deixassem os cargos para se defender. Ao reduzir o trabalho da força tarefa a abertura de inquérito, eles e os demais congressistas terão uma longa sobrevida.

 Todas as peças de uma investigação desenvolvida na fase do inquérito – confissões, delações ou mesmo documentos obtidos pela polícia –, são repetidas quando o caso se transforma em ação pena. Daí a razão de os criminosos de colarinho branco, em geral, preferirem o silêncio quando são interrogados em delegacias.

O indiciamento de suspeitos, ato que rende manchetes sensacionais, não tem valor para abertura do processo e nem para aplicação da justiça. Serve apenas para alimentar o prontuário do investigado que, culpado ou inocente, permanecerá no banco de dados da polícia.

Nem a denúncia do Ministério Público representa culpa. Ela passa a ter validade apenas quando o juiz a aceita e, encontrando indícios ou provas, instaura a ação penal que torna um suspeito réu no processo. Nessa fase começa tudo de novo. É onde normalmente os advogados de réus ricos ou poderosos aproveitam-se das brechas da lei para questionar as ações da Polícia Federal e do Ministério Público e, assim, tentar anular o que foi feito na fase de inquérito – como ocorreu em duas grandes operações, a Satiagraha e a Castelo de Areia, ambas arquivadas.

OUTRAS NOTÍCIAS

Levantamento alerta para direitos do servidor público estudante

1ª Turma mantém júri do caso Villela

Agente da PF ganha direito de remoção após ser vítima de assédio

Texto da reforma da Previdência é aprovado na CCJ