Parlamentares cobram ação do governo para conter suicídios entre policiais federais

Data: 11/06/15

Parlamentares e representantes sindicais da Polícia Federal (PF) cobraram nesta quarta-feira (10) ação do governo para conter a escalada de suicídios dentro da corporação. Conforme estatísticas dos sindicatos, o Brasil registra o suicídio de dois policiais a cada três meses. Esses números podem ser ainda mais graves, caso se incluam as mortes por causas desconhecidas e as tentativas de suicídio.

Eles participaram de reunião solicitada pelo deputado Paulo Pimenta (PT-RS) para discutir, na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, as condições de trabalho dos servidores da Polícia Federal (PF).

Para o presidente do sindicato dos policiais federais do Distrito Federal, Flávio Werneck Menegueli, “inércia é a palavra de ordem”, não apenas do Ministério da Justiça e da Secretaria de Direitos Humanos do Departamento da Polícia Federal (DPF), mas do DPF.

Paulo Pimenta informou que a diretoria da Polícia Federal se negou a participar da reunião sob o argumento de que o tema não deveria ser tratado em audiência pública, e sim em reunião corporativa. Essa explicação revela a “prepotência e descaso com a categoria” por parte dos dirigentes, disse o deputado Eduardo Bolsonaro (PSC-SP).

Conforme suas estimativas, o cenário é fértil para o sentimento de raiva nutrido por 46% dos servidores perante a instituição. “Todo ambiente democrático é importante, qualquer debate é melhor do que o hoje silêncio imposto”.

Audiência pública sobre a alta incidência de suicídios entre agentes da Polícia Federal. Presidente do Sindicato dos Policiais Federais do Estado do Rio Grande do Sul, Ubiratan Antunes Sanderson

A ausência de diálogo é resultado da forte hierarquia institucional, acredita o presidente do sindicato dos policiais federais do Rio Grande do Sul, Ubiratan Antunes Sanderson. “A chefia evita discutir a situação em público para não incentivar o suicídio”, disse. Nesse ponto, teve apoio do deputado Subtenente Gonzaga (PDT-MG): “A gestão da Polícia Federal tem sido o maior fator de problemas psiquiátricos, e não o trabalho operacional do agente”.

Problemas psíquicos


O presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Jones Borges Leal, por sua vez, cobrou as ações de assistência à saúde dos servidores anunciadas pelo Ministério da Justiça em 2010, que ainda não saíram do papel.

Segundo informou, mais de 30% dos policiais federais confirmam estar em tratamento psiquiátrico ou psicológico, sem contrapartida de atendimento médico. O Departamento da Polícia Federal (DPF) conta com apenas 14 psicólogos e 13 psiquiatras para atender todos os servidores, relatou.


De acordo Borges Leal, pesquisa feita com 2 mil profissionais constatou que 87% estão insatisfeitos com o trabalho, 97% reclamam da falta de oportunidade de crescimento na carreira e 76% notam ausência de liderança da chefia.

A insatisfação é acentuada entre agentes, escrivães e papiloscopistas e administrativos. “Nos últimos três anos, tivemos 20 suicídios, nós perdemos mais colegas para o suicídio que para o crime organizado”, comparou.

Assédio moral
Segundo ele, o assédio moral (exposição de trabalhadores a situações humilhantes), é a maior causa do suicídio entre os policiais, associada à insalubridade e às longas jornadas de trabalho. “Existem colegas que trabalham com interceptação telefônica que trabalham mais de 16 horas por dia, sem sábado e domingo”, contou.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Paulo Pimenta, cobrou a regulamentação da lei que cria o adicional de fronteira (Lei 12.855/13).

A lei prevê indenização de R$ 91 por jornada de oito horas trabalhadas por servidores públicos federais em postos de fronteira. O adicional destina-se a cargos responsáveis pela prevenção, controle, fiscalização e repressão dos delitos transfronteiriços. Para ser aplicada, a lei depende de um decreto presidencial que estabeleça em quais localidades estratégicas os servidores receberão o adicional.

OUTRAS NOTÍCIAS

Levantamento alerta para direitos do servidor público estudante

1ª Turma mantém júri do caso Villela

Agente da PF ganha direito de remoção após ser vítima de assédio

Texto da reforma da Previdência é aprovado na CCJ