Serviço público de qualidade é desafio para a democracia

Data: 17/06/15

          

O título deste post me veio à mente depois que li, recentemente, o resultado de uma pesquisa feita pela FGV-DAPP que mostrou, por parte da população, uma avaliação extremamente negativa dos principais serviços públicos do país. Por conta disso, não espanta que, segundo o levantamento, três em cada cinco brasileiros estejam insatisfeitos com o funcionamento da democracia. Banalizar esta situação será um erro. O que refletir sobre ela?

 

Segundo a pesquisa, 86% dos brasileiros estão insatisfeitos com a saúde pública, 82% com a segurança pública, 74% com educação e 67% com os transportes. Foram entrevistadas 3.600 pessoas em cinco regiões metropolitanas (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre), no mês de abril.


Os números não espelham nenhuma novidade, mas exatamente por isso, por seu caráter de repetição, é que preocupam.

 

Há muito tempo saúde, educação, segurança pública e transportes – todos serviços essenciais – aparecem como demandas públicas urgentes em diferentes pesquisas. Em julho de 2014, por exemplo, o Ibope perguntou, em SP, MG e RJ, quais eram os principais problemas enfrentados pelo eleitor, e nos três estados foram citadas saúde, educação e segurança, nessa ordem.

 

É claro que não se pode simplificar uma questão tão complexa. Muitos serviços Brasil afora melhoraram nos últimos anos e vem melhorando. A educação básica, por exemplo, se universalizou, embora a qualidade tenha virado ponto crítico. Faixas exclusivas de ônibus diminuíram, em algumas capitais, o tempo gasto no transporte público, apesar da lotação dos ônibus e dos preços altos das passagens. E por aí a coisa vai.

 

Saúde, educação, segurança, envolvem questões que não se resolvem em um ou dois mandatos, mas que demandariam ações para 20, 30 anos. Caberia às forças políticas pactuarem em torno a metas básicas. Apontar para perspectivas de longo prazo. Que pudessem ir além dos interesses imediatos, do curral eleitoral, dos cálculos para a próxima eleição. Além dos interesses específicos dos lobbies. Fazer, enfim, da política instrumento para a resolução dos problemas comuns. Este seria um bom norte para uma reforma política digna desse nome. Chegaremos lá um dia?

 

Seja como for, a incapacidade de governos e do sistema político de dar satisfação a demandas essenciais da população é parte importante da crise de representação pela qual passa o Brasil (e por tabela os valores democráticos). Na esteira da descrença popular, a maioria acaba por demonizar a política, vista como algo ‘sujo’, da qual é preciso distância. Como se esta não fosse a seara onde se cultivam as disputas. Como se a política não fosse parte de um jogo, afinal, no qual se define quem vai ter o que, quando e como. Ao se deslegitimar a política, poucos ganham (lobbies, interesses econômicos) e muitos perdem (a plateia).

OUTRAS NOTÍCIAS

Levantamento alerta para direitos do servidor público estudante

1ª Turma mantém júri do caso Villela

Agente da PF ganha direito de remoção após ser vítima de assédio

Texto da reforma da Previdência é aprovado na CCJ