Não podemos morrer como o Pedrão...

Data: 14/09/15

 

Depois de escrever tantos textos, existem assuntos que não deveriam despertar mais meu entusiasmo; afinal de contas, lucidez não foi “inventada” para enlouquecer as pessoas. Eu deveria lembrar coisas amenas, que não provoquem a ira de ninguém, até porque meu médico repetiu na última consulta: calma e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.

Mas minha consciência crítica continua viva, por isso ela me faz “conquistar” desafetos, estou sentindo que está na hora de conquistar mais alguns… Para falar a verdade, confesso que estou com “saudade” deles, lembro o tempo em que recebia mensagens desaforadas, informando que riscaram meu nome de suas vidas e de suas agendas. Isso me causava desconforto, apesar de muitos me obrigarem a escrever crônicas inesquecíveis, pelo menos para mim e para eles…

Mas está surgindo outra polêmica: a possibilidade de concederem gratificações aos policiais da ativa sem estenderem aos aposentados, que alguns chamam de inativos – termo que abomino… Antes de qualquer coisa, digo que, nesta altura da vida, criar inimizades é tudo que não preciso, mas também não quero sofrer injustiças depois de cumprir meu dever por tantos anos. Os idealizadores ou apoiadores de uma indignidade dessas certamente não conhecem a nossa história nem ajudaram a construí-la…

Isso estava demorando a acontecer – é mais um capítulo de uma novela que começou quando surgiu a ideia de acrescentarem penduricalhos aos contracheques, depois da luta para a criação do subsídio para igualar todos os policiais federais. Para quem não sabe ou esqueceu, a ideia era a manutenção de um salário digno e atualizado que seria levado para a aposentadoria. Quando isso é esquecido, não consigo deixar de lembrar o Pedrão – o degolador de Canudos… Com noventa anos de idade, era um sobrevivente. Indagado a falar sobre sua maior tristeza, Pedrão, sentado numa cadeira de balanço, respondeu: “Só uma: dá pena ver um homem como eu morrer sentado”… – não podemos morrer como ele. Está na hora de entenderem que alguém que deu os melhores anos de sua vida ajudando a construir uma Instituição como a Polícia Federal precisa ser preservado, respeitado.

Concluindo, digo, também, que a PF não pode ser dividida – isso fatalmente enfraquecerá a todos, pois a longo prazo prejudicará os eventuais beneficiados de hoje. Se essa coisa se confirmar, realmente vai ficar difícil, será o começo do fim. Não quero me antecipar e falar de algo que ainda não está claro, que está no campo da suposição. Se for verdade, é óbvio que será difícil revertermos, pois hoje as coisas são decididas no parlamento, e políticos, mais do que ninguém, sabem que policiais aposentados não investigam, não prendem…

Ainda estou confiando nas nossas entidades de classe, não tenho motivo para não fazê-lo. Não tenho sugestão alguma, neste momento só a preocupação e a indignação estão ao meu lado, enquanto leio e escuto alguns dizerem que a “vanguarda do atraso” está trabalhando para elaborar leis absurdas e injustas que só interessam a quem as aprova e a quem é beneficiado por elas. Isso precisa ser barrado, sob pena de morrermos como o Pedrão…

Amém!

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