Policial federal pode ser demitido por imprimir documento na delegacia

Data: 29/10/15

 

Policial federal em Dourados pode ser demitido por imprimir um documento na impressora da delegacia. Por causa de motivos como esse, o município foi sede, hoje, em Mato Grosso do Sul, para o lançamento da campanha nacional "Assédio moral na Polícia Federal. Quem perde é a sociedade".

Trazer à tona os assédios que ocorrem dentro da Polícia Federal tem sido uma das formas encontradas pelos sindicatos para mostrar que muitos policiais estão abandonando a profissão em razão da pressão que sofrem. Semana passada, por exemplo, policiais em Dourados iniciaram ações contra os abusos, colocando outdoors em frente à Delegacia no município, alertando a sociedade para os crescentes casos dentro da Instituição. Isso bastou para serem questionados que não são "autoridades policiais" para falarem em nome da Polícia Federal.

Marcos Peixoto, representante do Sindicato dos Policiais Federais (Sinpef/MS), diz que vários são os problemas que, ao invés de melhorar os trabalhos e ações dentro da instituição, acabam desmotivando a categoria. Vítima de assédio, ele sofreu na pele ano passado quando foi obrigado ir à uma missão de 60 dias no estado de Rondônia, numa época em que a esposa passava por gravidez de risco, de gêmeos. "Consegui dois outros policiais que se dispuseram a ir no meu lugar, mas os superiores negaram e fui obrigado a ir", relata Peixoto, que é militante do sindicato e luta pela categoria.

Ele diz que o assédio é recorrente e cita um colega, também de Dourados e sindicalista, que responde a quatro procedimentos disciplinares e dois inquéritos policiais por motivos corriqueiros, sem necessidade. Um deles por acusação de imprimir uma página de documento numa impressora da delegacia. "Só por conta da impressão do documento estão pedindo a demissão do colega", disse Peixoto, preferindo não citar nome para não prejudicar o policial.

Presente no lançamento da campanha, o presidente do Sinpef/MS, Jorge Luiz Caldas, de Campo Grande, também diz ter sofrido assedio. Em razão dos outdoors colocados em Dourados, ele foi chamado na Superintendência Regional do órgão, na última quinta-feira, na Capital, para prestar esclarecimentos sobre a campanha. Um delegado queria interrogá-lo, porém ele se recusou a responder a uma série de questionamentos. "Disseram que seria uma reunião e chegando lá me colocaram contra a parede", diz.

Dourados lidera o ranking de assédio, segundo ele, desde 2013, quando foi realizada paralisação no município. Desde então, policiais militantes no sindicato são os mais visados, porém, demais agentes respondem aos mais diferentes procedimentos de forma coletiva. Os casos em Dourados chamaram a atenção da Federação Nacional dos Policiais Federais e o vice-presidente do órgão, Luis Antônio de Araújo Boudens, esteve presente no lançamento da campanha.

Durante ato que ocorreu em frente ao prédio da delegacia, um grupo de policiais portou cartazes e os representantes sindicais protestaram em microfone de carro de som. Foi distribuído bombons em alusão a um recente caso de abuso de poder por parte de um delegado contra uma faxineira que comeu um chocolate, em Boa Vista (RR), e que chamou a atenção da população, que, até então, achava que se tratava de um caso isolado. "Temos que estancar esses problemas e para isso a categoria dos policiais deve estar unida. Todos os cargos devem ser tratados como iguais", disse o vice-presidente nacional.

Dentro da Polícia Federal há duas categorias - dos delegados e dos policiais. Cada uma delas têm ideologias diferentes e entram em confronto. Os policiais defendem uma ampla reforma, baseada em boas práticas, tendo como exemplo países onde os índices de elucidação de homicídios são eficientes, como no Chile, que chega a 98%. No Brasil não passa de 8% as elucidações.

Marcos Peixoto, do sindicato da PF em Dourados, diz que os policiais querem trazer esse debate em nível nacional, mas são barrados pela associação dos delegados. "Eles [delegados] não querem reforma, não querem mudanças, temem perder status, o poder", afirma. Quem perde, nesse meio, segundo ele, é a sociedade brasileira, que fica com um modelo ineficaz de polícia.

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