Em guerra contra rivais, PCC afrouxa regras de "batismo" para ter cada vez mais membros

Data: 15/12/17

Os presídios e as bocas de fumo em todo o país sediam uma audaciosa campanha de filiação. Também conhecido como o "Partido do Crime", o PCC (Primeiro Comando da Capital) começou nos últimos meses a afrouxar de vez suas regras de "batismo" para alcançar 40 mil novos membros até o final de dezembro. O objetivo é criar um "exército" capaz de encarar as facções adversárias, como a carioca CV (Comando Vermelho) e a amazonense FDN (Família do Norte).

O "batismo desenfreado" foi confirmado ao UOL por três integrantes da PF (Polícia Federal) e dois do MP (Ministério Público) de São Paulo.

"A informação que surgiu é que cada membro deveria batizar uma outra pessoa", afirma o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, um dos maiores especialistas do país quando o assunto é PCC e integrante do Núcleo de Presidente Prudente do Gaeco (Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado). "Eles estão pegando qualquer um."

Massacre de Manaus: guerra de facções motivou aumento do número de filiados do PCCLevantamentos de órgãos de segurança pública estimavam que a facção possuía por volta de 20 mil membros no início do ano e que, se a estratégia "cada um batiza outro" desse certo, a campanha resultaria no dobro de filiados.

Pelas antigas regras, para entrar no PCC um pretendente precisava ser convidado por um membro da facção e ter o aval de outros dois integrantes. Quem convidava tornava-se "padrinho" e responsável pelos atos do "afilhado", inclusive sujeito a "pagar" pelos erros cometidos pelo novo membro.

"Eles já começaram a dispensar a necessidade dos padrinhos", afirmou um delegado da PF que investiga a facção paulista.

"Na região Norte e no Rio de Janeiro, eles dispensaram o aval de um membro mais velho. Em outros lugares, estão usando uma estratégia diferente. Eles fizeram batizados coletivos de membros de facções locais que são aliadas do PCC. Isso aconteceu, por exemplo, em Santa Catarina e no Rio Grande do Norte."

O motivo da campanha

"Surgiram informações de que essa facção está interessada em aumentar o seu número de filiados principalmente por estar em disputa com outros grupos criminosos em diversos Estados", diz Flávio Werneck, vice-presidente da Fenapef (Federação Nacional de Policiais Federais).

No segundo semestre do ano passado, salves (comunicados) e diálogos a respeito da necessidade de aumentar filiados foram interceptados em investigações sobre o PCC no período anterior a conflitos no sistema penitenciário que resultaram em massacres (como o de Manaus e o de Alcaçuz).

Desde o final do ano passado, o PCC entrou em guerra com o Comando Vermelho e suas facções aliadas, principalmente a FDN, a terceira maior do país, pela disputa do controle dos presídios e das rotas de tráfico no Brasil todo.

No fim de novembro, 157 presos integrantes do PCC e do Comando Vermelho  foram trocados pelas secretarias de administração prisional dos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo para evitar mortes em presídios, informou a SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) paulista.

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Em alguns Estados, a estratégia do PCC de aumentar filiados tem sido bem mais sucedida do que em outros. O Ceará é um caso exemplar: por volta de março de 2015, o PCC possuía menos que 250 filiados no Estado. Atualmente, o número é, pelo menos, dez vezes maior.

"O PCC tem priorizado os Estados que estão em fronteiras, ou que possuem portos, onde a prioridade é o tráfico internacional para centros de consumo da África, Europa e Ásia", afirma um membro da área de inteligência da PF, sob a condição de sigilo. Ele acompanha a movimentação do PCC na região Nordeste, onde a guerra de facções favoreceu o aumento no número de homicídios. "Esse seria o motivo de a facção não querer perder espaço e mesmo se consolidar no Ceará, onde existem dois portos importantes: Mucuripe e Pecém."

Em uma contabilidade da facção, à qual os órgãos de segurança tiveram acesso, o PCC teria chegado a exatos 2.494 filiados cearenses no último mês de maio. É o maior contingente fora de São Paulo, berço da facção, e do Paraná. "Atualmente já seriam cerca de 3.000", estima o investigador da PF.

"Recrutar sem critério pode gerar risco"

Mas a estratégia de filiação a qualquer custo tem seus riscos. "Há de se considerar que como é um batismo de 'menor qualidade' esses caras são mais instáveis, inclusive mais afeitos a cometerem besteiras e serem excluídos ou afastados, ou mesmo rumarem para outras facções", diz o integrante da PF.

"Eu não sei se isso é realmente um ganho para eles em termos de 'qualidade'. Recrutar sem critério pode gerar um risco, pode gerar problemas difíceis de lidar a longo prazo", afirmou o procurador Márcio Sergio Christino, autor do recém-lançado livro "Laços de Sangue - A História Secreta do PCC" (Editora Matrix).

"Mas, no final, a guerra acaba sendo um grande negócio para as facções. Quanto mais gente entra, mais dinheiro se movimenta. Só que não há vida pós-facção. O cara vai morrer como morreram os de Manaus e os de Alcaçuz e em outros presídios", afirma o agente da PF.

"Os familiares das lideranças vivem como milionários, mas os chefes são 'reis' presos, alguns até o fim da vida. Há uma grande massa se matando entre as facções e fazendo atentados para uma pequena cúpula ganhar mais e mais."

E o PCC chegará a 40 mil filiados até o dia 31 de dezembro? "Não, os dados mostram que eles chegaram a 25 mil, 26 mil, mas não eles não vão parar de batizar mais gente."

  Fonte: Uol

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