Entenda a Operação Skala, da Polícia Federal, que prendeu amigos de Temer

Data: 29/03/18

A Operação Skala, deflagrada nesta quinta-feira (29) pela Polícia Federal, faz parte das medidas solicitadas pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge – e autorizada pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF) – com o objetivo de coletar provas para o inquérito que investiga se o presidente Michel Temer editou um decreto a fim de favorecer empresas portuárias em troca de propina. Temer nega.

Uma dessas empresas, a Rodrimar, foi alvo de busca e apreensão nesta quinta em Santos. O dono da empresa, Antônio Celso Greco, foi preso. Além dele, a PF também prendeu dois amigos de Temer – o advogado José Yunes e o ex-coronel João Baptista Lima Filho. Também foi preso o ex-ministro Wagner Rossi, um assessor dele, Milton Ortolan, e uma empresária do grupo Libra, do Rio de Janeiro.

Entenda

O que é o inquérito sobre o decreto dos portos?

O inquérito investiga o suposto pagamento de propina por empresas do setor dos portos para agentes do governo em troca de favorecimentos nos contratos.

Foi instaurado a partir dos depoimentos de Joesley Batista e Ricardo Saud, delatores da Operação Lava Jato.

Em maio de 2017, um decreto assinado pelo presidente Michel Temeraumentou o prazo das concessões das áreas portuárias de 25 anos para 35 anos, com chance de prorrogação por até 70 anos.

Segundo a denúncia da Procuradoria Geral da República, esse decreto teria sido aprovado após pagamento de propina ao presidente e seus principais aliados.

Temer é investigado na operação?

Sim. O Supremo Tribunal Federal (STF) enviou 50 perguntas elaboradas pela Polícia Federal (PF) para o presidente Michel Temer em janeiro deste ano.

O delegado da PF Cleyber Malta Lopes perguntou se o presidente foi procurado por representantes do setor de portos. Ele queria saber se Temer chegou a receber pedidos para a ampliação dos contratos.

A polícia também investiga se o presidente recebeu oferta de dinheiro, ainda que em forma de doação para a campanha eleitoral – formal ou caixa dois – para criar decretos ou dispositivos legais em benefício das empresas que atuam no setor portuário.

Em gravações divulgadas em maio do ano passado, o ex-assessor especial da presidência, Rodrigo Rocha Loures, conversa com Gustavo Rocha, chefe para assuntos jurídicos da Casa Civil. Ele defende a mudança no decreto.

Em março deste ano, o ministro Luís Roberto Barros autorizou a quebra de sigilo de Temer.

Quem foi preso na Operação Skala e quais as suspeitas sobre eles?

José Yunes, advogado, amigo e ex-assessor do presidente Michel Temer. Ele prestou depoimento à PF em novembro do ano passado sobre os contratos dos portos. É apontado pelo operador financeiro Lúcio Funaro, delator da Operação Lava Jato, como um dos responsáveis por administrar propinas supostamente pagas ao presidente.

Antônio Celso Greco, empresário e dono da Rodrimar. É suspeito por pagar propina para receber benefícios em contratos para a concessão de portos.

João Baptista Lima. É ex-coronel da Polícia Militar de São Paulo e amigo de Temer. Ele é apontado pela Procuradoria Geral da República (PGR) como um dos intermediários da propina que seria paga para a aprovação do decreto dos portos.

Wagner RossiÉ ex-deputado, ex-ministro e ex-presidente da estatal Codesp, administradora do porto de Santos. Em delação, Joesley Batista disse que foi procurado por Rossi e ouviu reclamações de que Temer o havia abandonado - deixado de pagar R$ 200 mil por mês após a saída do ministério.

Milton Ortolan, auxiliar de Wagner Rossi. Joesley também disse à PF que Temer perguntou se poderia ser paga a quantia de R$ 20 mil a 30 mil a Ortolan.

Celina Torrealba, uma das donas do grupo Libra. Segundo o jornal "O Globo", são investigadas as doações feitas por integrantes da família Torrealba nas eleições de 2014.

O que diz o governo e o que dizem os presos?

O Palácio do Planalto, por meio da assessoria de comunicação, disse que por enquanto não irá comentar a operação da Polícia Federal. A direação do MDB Nacional disse que o partido não irá se manifestar.

A defesa de Yunes classificou a prisão como "inaceitável".

Cristiano Benzota, advogado de João Baptista Filho, disse, por volta de 14h10 desta quinta-feira, que não poderia falar naquele momento e que se manifestaria mais tarde.

Por meio da assessoria de imprensa, a Rodrimar e a defesa de Grecco confirmaram que o empresário foi detido, por ordem de uma prisão temporária, em Monte Alegre do Sul. O comunicado também informa que as sedes da companhia em Santos são alvos de mandados de busca e apreensão.

"Eu tenho absoluta consciência que eu não tenho nada a ver com os assuntos que me foram perguntados e certamente vou sair daqui cinco dias e voltar para o convívio familiar. Só isso", disse o ex-ministro na Delegacia Seccional de Ribeirão Preto (SP), onde passou por exame de corpo de delito.

Mais cedo, seu advogado, Rafael Chiaradia, afirmou que a prisão é "abusiva" e que a defesa ainda tenta entender as circunstâncias da decisão.

"Wagner Rossi aposentou-se há sete anos. Desde então, nunca mais atuou profissionalmente na vida pública ou privada. Também nunca mais participou de campanhas eleitorais ou teve relacionamentos políticos. Mora em Ribeirão Preto onde pode ser facilmente encontrado para qualquer tipo de esclarecimento. Nunca foi chamado a depor no caso mencionado. Portanto, são abusivas as medidas tomadas. Apesar disso, Wagner Rossi está seguro de que provará sua inocência", afirmou em nota.

G1 busca contato com a defesa de Milton Ortolan, mas não havia conseguido até a última atualização desta reportagem.

G1 também entrou em contato com a assessoria de imprensa do Grupo Libra, mas a empresa informou que, por enquanto, não irá se posicionar.

G1

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