Mais vale a versão do que o fato na discussão sobre a imagem da PF
Data: 10/10/17
No Brasil, via de regra, prende-se antes para investigar depois. Uma cultura forjada na burocracia cartorária imposta às polícias judiciárias, sejam elas Civil ou Federal, somando-se à gritante falta de efetivo.
Dados da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) revelam que somente 4% de todos os procedimentos instaurados pela PF no território nacional resultam em efetiva denúncia do Ministério Público Federal à Justiça. Se formos analisar as condenações, cai para míseros 2%. Comparado aos norte-americano os números são de ruborizar. Lá, este mesmo percentual do FBI chega a 82%. Nos vizinhos Paraguai e Argentina giram em torno de 60%.
Para o presidente da Fenapef, Luís Antonio Boudens, esta radiografia só não é pior exatamente por conta da Lava-Jato, que inaugurou um modelo de investigação multidisciplinar e integrada, sem tantos carimbos e ofícios.
"Hoje a Polícia Federal trabalha com 11,6 mil homens na ativa, sendo que 45% estão absorvidos por funções mais burocráticas ou fiscalização de fronteiras, portos, aeroportos, elaboração de passaportes e portes de arma. E os 65% que vão para a investigação precisam fazer escolhas diante dos milhares de inquéritos que se acumulam nos escaninhos", diz.
Na prática, operações midiáticas são fundamentais para maquiar a verdadeira realidade da estrutura oferecida aos agentes públicos da PF, a exemplo do sucateamento de todas as forças de segurança pública no país. "Isso prova que o nosso modelo de polícia no Brasil está falido e precisa ser revisto com urgência", comenta Anderson Amorim, presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Catarina e diretor da Organização Internacional das Entidades Policiais dos Países da Língua Portuguesa.
Ou seja, na discussão entre a expectativa gerada sobre a imagem da PF e a dura realidade, vence a tese de que mais vale a versão do que os fatos. Afinal, somos todos reféns de velha e boa vaidade.
Fonte: Diário Catarinense